Deste poeta nascido no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 1951, gosto especialmente do poema que foi publicado em 1989 no livro "Mínima Lírica", porque ainda continuo: "só discos e lendo muito"! Em 2004 com o livro "Macau" ele ganhou os prêmios Alceu Amoroso Lima e Portugal Telecom de Literatura Brasileira.
Geração Paissandu
Vim, como todo mundo,
do quarto escuro da infância,
mundo de coisas e ânsias indecifráveis,
de só desejo e repulsa.
Cresci com a pressa de sempre.
Fui jovem, com a sede de todos,
em tempo de seco fascismo.
Por isso não tive pátria, só discos.
Amei, como todos pensam.
Troquei carícias cegas nos cinemas,
li todos os livros, acreditei
em quase tudo por ao menos um minuto,
provei do que pintou, adolesci.
Vi tudo que vi, entendi como pude.
Depois, como de direito,
endureci. Agora a minha boca
não arde tanto de sede.
As minhas mãos é que coçam -
vontade de destilar
depressa, antes que esfrie,
esse caldo morno de vida.
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