quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"A SOLIDÃO DOS VIVOS"

Após estes dias em que contamos os mortos de mais uma tragédia, quero usar este espaço para colocar algumas palavras de Norbert Elias (sociólogo alemão), misturadas com considerações pessoais.
"A morte é um problema dos vivos. Os mortos não têm problemas". Entre as muitas criaturas que morrem na Terra, a morte constitui um problema só para os seres humanos. Na verdade não é a morte, mas o conhecimento da morte que cria problemas. Há várias maneiras de lidar com o fato de que todas as vidas, incluídas as das pessoas que amamos, têm um fim. Podemos tentar evitar a idéia da morte afastando-a de nós tanto quanto possível ou assumindo uma crença inabalável em nossa própria imortalidade. "Os outros morrem, eu não". Há uma forte tendência neste sentido em nossa sociedade. Finalmente, podemos encarar a morte como um fato de nossa existência; podemos ajustar nossas vidas, e particularmente nosso comportamento em relação às pessoas, à duração limitada de cada vida.
No curso de um processo civilizador, mudam os problemas enfrentados pelas pessoas. Mas não mudam de uma maneira desestruturada, caótica. Examinando de perto, detectamos uma ordem específica mesmo na sucessão de problemas sociais humanos que levam a catástrofes. Temos uma tendência a buscar respostas em algo sobrenatural, que foge ao nosso controle. É negar o perigo ou em última instância a morte.
Vivemos numa sociedade em que se impôs a idéia de que só a ciência podia tirar a humanidade do sofrimento e da desgraça. Está em curso uma solução para que todos se sintam seguros, será um novo e ultra-moderno sistema que irá prevenir e evitar novas catástrofes. É a crença de que a sabedoria e a capacidade humana fará desaparecer todas as angústias e trará a felicidade aos homens, afastando o risco da morte.
Para finalizar, Deus não é mais o que era. É em outro lugar que Ele agora se situa. Ele se encontra no nível das interrogações e não mais no nível das certezas. Encontra-se misturado a nossas angústias e a nossas perguntas sobre o sentido profundo das coisas.
Penso que a principal tarefa do nosso século é reintegrar Deus ao interior de cada um.

4 comentários:

  1. As pessoas rezam demais, porém têm fé de menos. Só morre quem está vivo, esse é o ciclo.
    Grande abraço

    ResponderExcluir
  2. Eduardo

    Talvez nossa descrença no homem tem nos empurrado para esta interrogação de Deus. Você leu os comentários dos principais jornais espanhois sobre a catástrofe no Brasil? É vergonhosa a maneira dos políticos brasileiros tratarem as mortes dos flagelados da catástrofe. Gargalhadas em uma mesa de reunião...
    Concordo plenamente que temos que resgatar Deus no interior de cada um mas penso que, se assim você me permite, temos que vivenciar Deus em um plano mais horizontal para descobrir Ele dentro de cada um.

    Obrigado pela reflexão e pelo espaço.

    Um grande abraço
    Paulinho do Boi

    ResponderExcluir
  3. Paulinho,
    concordo e foi por isto que eu escrevi: "Os outros morrem, eu não". Há uma forte tendência neste sentido em nossa sociedade.

    Também se você puder leia o meu post "FATALIDADE E HIPOCRISIA" que escrevi logo depois da catástrofe e que mostra a minha indignação com os políticos. Já previa a atitude dos mesmos!

    Muito obrigado por compartilhar e interagir comigo neste espaço, é realmente um prazer.
    Um abraço!

    ResponderExcluir
  4. Gostei tb do que vi por aqui. Tenho certeza que encontrei em ti um bom interlocutor. Sola Scriptura

    ResponderExcluir

Obrigado pela visita. Deixe seu recado para que possamos interagir!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...